A’yjaxa’amỹna itahanu’ũ ika kwa’ate.
U Jawajaxa’amỹna wỹ makahape anỹ.
– Ma’a pixa ika kwy, aty!
– Nawanĩ, aty! Ajtahanu’ũ e tika ko wate, aty! ‘I A’yjaxa’amỹna Jawajaxa’amỹ pe anỹ.
– Jaha anỹ, aty!
– Majẽ, aty! Hajtahanu’ũha mamahi ta ni pa!
– Ni’u ta, aty! ‘I Jawajaxa’amỹna A’yjaxa’amỹ pe anỹ.
– Aje, aty! Ajpi aha apaj ri, aty! ‘I A’yjaxa’amỹna ipe anỹ.
– Jawa, jawa: a’i nijã, aty!
– Aje, aty! ‘I Jawajaxa’amỹna ipe.
‘I A’yjaxa’amỹna ipe anỹ:
– Xape a’ya, a’ya a’i jaha anỹ.
– Aje, aty! ‘I Jawajaxa’amỹna ipe. ’Amehẽ jaha nĩ! Ma’i xi pa wate. Jawa, jawa ‘i xi pa wate. Oho xi ipipa wate.
Po xi aha ka’a ro po’oka. Wa’a xi kapo. Wa’a kapo jikapa haja.
Manũ kapo jikapa kyry’y.
Jika Jawajaxa’amỹna. Ipowỹ itahanu’ũhape, wỹ tahanu’ũhape anỹ.
A’ia A’yjaxa’amỹna ma’i ika ‘amehẽ ‘ari:
– Amanũ ma ra’a? Hara’okãj xipe, xãm!
– ‘I: Hapijakỹ pẽ temẽ itahanu’ũha rehe ra’a. Hapijakỹ ho rawỹ pa? Hara’okãj xipe, xãm! ‘I A’yjaxa’amỹna ika makapa anỹ.
– Mõ xiku ta mijẽ ra’a? ‘I amõ ipe.
– Xoho hajra pa’a neme, aty!
– Amẽ awa wahy tima’i xi ninixaka: – Hajra pa’a ini kwy, tima’i xi nipe, aty! ‘i A’yjaxa’amỹ ipe.
Oho hajrapa’a neme wỹ.
A história da antiga Preguiça-gente que virou arapu
Amiria Awa Guajá
Transcrição e tradução: Marina Magalhães
Em tempos remotos, as antigas preguiças-gente estavam brincando lá em cima da árvore. Elas se divertiam, escalando a árvore até o alto, pulando para agarrar as folhas e caindo no chão, sobre troncos e rochas, quando as folhas quebravam.
Então, ouvindo a risada das preguiças, a antiga onça-gente se aproximou.
– O que vocês estão fazendo, amigas?
– Nada não, amiga! Só estamos mesmo nos divertindo aqui no alto! – respondeu uma das preguiças para a onça.
– Eu também quero, amigas!
– Ai, amiga onça, não vai dar certo! Assim você vai acabar com a brincadeira!
– Não falem assim, senão eu vou comer vocês! – disse a onça para as preguiças.
– Então está bem! Suba logo! – disse uma das preguiças para a onça.
– Jawa, jawa: diga assim quando estiver subindo pelo tronco da árvore! Nós, preguiças, quando subimos, dizemos assim: a’ya, a’ya¹.
– Está bem, amigas, eu já vou! – disse a antiga onça-gente para as preguiças.
E subiu lá para o alto da árvore dizendo enquanto escalava: jawa, jawa, jawa, jawa...
Mas, quando pulou para agarrar a folha da árvore, a folha se soltou imediatamente e a onça caiu de lá de cima. E morreu, caindo em cima dos troncos e rochas. Acabou se matando por insistir em participar da brincadeira das preguiças. E apodreceu no lugar em que as preguiças se divertiam.
Então uma das preguiças disse:
– Por que será que não morri também com essa brincadeira? Deve ser porque somos muito magras!
A outra preguiça também se indagou:
– Por que será que minha coluna não quebra? Como a minha coluna não arrebenta? Deve ser porque somos muito magras mesmo! – concluiu a preguiça, rindo.
– E agora, como será que vamos fazer? A onça acabou com a nossa diversão! – uma disse à outra.
– Vamos permanecer aqui no alto da árvore, vamos nos transformar em arapuá, amiga!
– Isso! Aí as mulheres, quando estiverem passando por aqui e olharem para o alto, dirão ao nos ver:
– Olha lá, uma arapuá! – explicou uma preguiça para a outra.
E foi assim que as antigas preguiças-gente se tornaram arapuá.
Currículo
Marina Magalhães
é linguista, professora na Universidade de Brasília desde 2010 e concentra sua pesquisa na área de Teoria e Análise Linguística de Línguas Indígenas. Sua investigação tem como foco, desde 2001, a descrição e análise da língua falada pelos Awa Guajá.
Notas
- O vocábulo jawa significa ‘onça’ e a’ya significa ‘preguiça’ em Guajá. Na história, quando repetidos, sem interrupção, seguidamente, produzem dois distintos ritmos sincopados que imitam o movimento da onça escalando a árvore (jawajawajawajawa...) e o movimento da preguiça, mais lento, escalando (a’ya’a’ya’a’ya’a’ya...).

