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Instalação inéditos inevitáveis numa experiência sensorial: fragmentos do Acervo Vídeo nas Aldeias

Crédito da imagem: Aceita?, série fotográfica realizada desde 2014 pelo artista visual Moisés Patrício

Espaço Mari’Stella Tristão, Palácio da Artes
19 de novembro a 05 de dezembro

Hiper-locais, os 6 trechos inéditos desta instalação já se tornam inevitáveis. Oferecidos por Vincent Carelli como amostra do vasto acervo gerado durante 35 anos pelo projeto Vídeo nas Aldeias, provenientes do material filmado entre os povos Guarani-Kaiowá, Xavante, Gavião e Krahô, Yanomami, Wajãpi, Kanoê e Akuntsu, na década de 1990, estas sequências brutas aparecem como se estivessem esperando para se mostrarem.

Melhor, para nos mostrarem, em contínuo, seu poder de síntese. Revelam coisas que já havíamos talvez pensado, nebulosamente, mas eis que na visada, vão tomando um teor inteiramente significativo. Os índios, se os vissem, entenderiam tudo! Nós seremos talvez capazes de ver a riqueza, a beleza, a destreza, o saber dos outros desfilando ali: o garotinho yanomami brinca no igarapé, corpinho nu, perninha pra cima, cabeça pra baixo, molha as franjas do cabelo, corre sorrindo. O pai dele, sentado perto, absorto nos pensamentos, espera os outros na volta da mata para casa. Os adolescentes guarani kaiowá dançam com os mais velhos. A comunidade está reunida, é dia de festa! Os garotos estão sendo provados. Sabem que são os donos do futuro, alegremente arrogantes, exibem sua coragem de viver. Os homens xavante estão retirados, se preparando para um ritual. Se pintam de onça, desenham na pintura mais tradicional uns números: 1995, o ano em que foram flagrados. O velho Kohokrenhum Gavião vigia o ritual feito para ele pelos parentes krahô, com sua elegância displicente, toma um café. Um grupo de homens wajãpi derruba uma árvore enorme, descascam o tronco, recortam a casca em tiras, martelam as tiras com um pau, com o golpe, elas se tornam maleáveis. Atolam essas franjas no barro preto. Elas serão usadas na confecção das máscaras do peixe pacu. A mulher kanoê, está ao lado do velho akuntsu. É a primeira vez que se juntam na frente dos brancos. Ninguém fala língua inteligível ao outro. No entanto, ela inala o pó que o velho akuntsu preparou. Então, ela começa a falar a língua dos pássaros. "Vejam, vocês, o que sabem”.

Além das projeções fílmicas, a instalação exibe também uma amostra da parte fotográfica do acervo. Dentre cerca de 12 mil fotos, Carelli nos presenteia com uma seleção de cerca de 300, que dão testemunhos da longa trajetória de trabalho do VNA e da beleza dos povos indígenas no Brasil.

Das seis sequências, três são exibidas apenas no contexto da video-instalação presencial (Isolados de Corumbiara, Wajãpi, Yanomami da região do Alalaú), mas outras três também serão exibidas online (Intercâmbio Krahô e Gavião, Kaiowa de Panambizinho e Xavante de Sangradouro).